sábado, 21 de maio de 2011

Devo Lembrar

Uma aula de filosofia para crianças... Hoje???

Graziela Zaltron de Oliveira*

Muitos professores, ao iniciarem o trabalho de Filosofia com Crianças, ou mesmo depois de já há algum tempo desenvolvendo-o, mantêm constantes dúvidas metodológicas: qual a melhor hora para filosofarmos? Devo preparar minha aula prevendo o que será dito ou questionado pelas crianças? Devo deixar que as questões a serem discutidas brotem do dia-a-dia e do cotidiano vivenciado pelos alunos? Como saber se o que meus alunos estão falando se configuram em questões filosóficas?
Estas e muitas outras dúvidas fazem parte do nosso longo processo de aprendizagem na tarefa de sermos educadorese, principalmente, na tarefa de sermos. EDUCADORES PARA O PENSAR! O que segue, agora, não é um< texto que pretende abordar aspectos metodológicos ou fornecer bases teóricas do trabalho de Filosofia na Educação Infantil. É, pois, apenas, um ligeiro relato de uma aula experienciada por alunos entre 4 e 5 anos de idade, do Colégio Marista Santo Ângelo, na turma de Educação Infantil – Nível “A”:
“No dia 13 de outubro de 2004, como em todos os outros dias no ano, cheguei na sala de aula com meu planejamento preparado. Sabia, na medida em que se é possível saber, o que seria realizado naquele dia. No entanto, não havia me dado conta de uma coisa que poderia mudar drasticamente o cursoda aula daquele dia. Eu havia ido para a escola com uma bolsa. Mas não era uma bolsa qualquer. Era a bolsa da aula de Educação para o Pensar.
No início do ano, eu havia combinado com a turma, que sempre que tivéssemos aula de Educação para o Pensar, eu viria para a sala com a “Bolsa da Coruja”, uma bolsa de estopa, com uma coruja de palha na frente, que ajudaria as crianças a construírem a noção de tempo e as possibilitaria saber o que seria realizado naquele dia, tendo em vista que estas ainda não estavam acostumadas com a rotina da escola, pois era a primeira vez que a freqüentavam. No entanto, neste dia, fui para a escola sem perceber que levava comigo a referida bolsa. No meu planejamento semanal, a aula de Filosofia seria dali a dois dias e nós discutiríamos a uestão dos direitos das crianças. Mas mal havia chegado na aula, já comecei a ser questionada sobre o que havia na “Bolsa da Coruja”, o que discutiríamos, se ela havia trazido alguma historia, música, gravura... E agora, o que fazer? Aula de Filosofia, hoje????
Porquê não? Resolvi reunir as crianças em círculo, no tapete da sala, como de costume, e expliquei a elas o que havia acontecido. Eu não tinha levado a aula de Filosofia preparada, mas já que elas estavam dispostas, poderíamos conversar sobre nossas aulas de Educação para o Pensar.
Mas, afinal, o que será que meus alunos entendiam por PENSAR? Estapalavra já havia sido introduzida em seus vocabulários devido à prática permanente de sua utilização, mas qual a compreensão deles a respeito da mesma? Talvez aquele fosse um bom momento para investigar!!!
A primeira fala veio do Kelvin (5 anos) e 3 meses): “O pensamento fica naturma já estava acostumada a se referir ao ato de pensar com gestos do tipo apontar o dedo para cabeça.
A segunda colocação foi do João Pedro (5 anos e 2 meses): “Pensar éimaginar o pensamento!” Nossa! Que colocação!!! Eu mesmo precisei de alguns segundos para entender o que ele quis dizer!
Aí veio a fala pontual e categórica do Arthur Filipe (4 anos e 7 meses) “Pensar é uma coisa que a gente faz antes de brincar para escolher com o quê vai brincar e de qual brincadeira!” Realmente o Arthur estava certo: pensar implica ação! E mal ele havia terminado de falar, outros colegas relacionaram o pensar a ações, dizendo coisas como: “Quando a criança anda de bicicleta ela também pode pensar!” (Gabriela – 5 anos) ou então: “Quando a criança brinca, ela também pensa!” (Bianca – 4 anos e 6 meses).
Observando o andamento da discussão,>o Lorenzo (4 anos e 11 meses) resolveu resumir tudo dizendo: “Toda hora a gente pensa!” E o Gustavo (4 anos e 2 meses), finalmente “concluiu” a discussão, afirmando que: “Pensar pode ser uma coisa boa ou ruim... Eu prefiro pensar numa coisa boa!”
A esta altura eu já estava mais do que satisfeita com as colocações das crianças e sua permanência no tema a ser discutido, bem como na capacidade de ouvir os colegas com atenção e de passar a palavra ao outro. A concentração, nesta hora, já estava se dispersando e era a hora de partirmos para o registro. Cada criança desenhou em uma folha, da cor desejada e com canetões pretos, momentos de sua vida em que viu-se pensando ou em que percebeu a importância do pensamento na realização de algo. Os desenhos ficaram lindos e juntos com o registro escrito da falas, foram expostos na V Multifeira da escola para apreciação da Comunidade Educativa Marista da cidade de Santo Ângelo”.
Com esta experiência, percebi que as crianças possuem um potencial filosófico inesgotável e que qualquer estímulo é desculpa para que procurem desvendar os mistérios do ato de pensar e a magia do ato de viver!
Quando temos clara a nossa intenção educativa, conseguimos fazer de situações inusitadas, momentos oportunos de aprendizagem, tanto para nós, quanto para nossos alunos! Professora de Educação Infantil do Colégio Marista Santo Ângelo Ângelo”.
Com esta experiência, percebi que as crianças possuem um potencial filosófico inesgotável e que qualquer estímulo é desculpa para que procurem desvendar os mistérios do ato de pensar e a magia do ato de viver!
Quando temos clara a nossa intenção educativa, conseguimos fazer de situações inusitadas, momentos oportunos de aprendizagem, tanto para nós, quanto para nossos alunos!
*Professora de Educação Infantil do Colégio Marista Santo Ângelo.

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